Ao mesmo tempo causa e consequência da desigualdade social entre os brasileiros empregados, o abismo salarial que separa trabalhadores com e sem diploma universitário começou a diminuir. Depois de atingir o ápice em 2007, quando funcionários graduados ganhavam 159% a mais do que empregados de nível médio, a curva da disparidade sofreu uma inflexão nos dois anos seguintes. Em 2009, último ano com estatísticas disponíveis, a diferença já havia caído para 146%. Os dados, que têm como fonte primária a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE, fazem parte de um estudo ainda inédito do economista Naercio Menezes Filho, do Insper, um centro de ensino e pesquisa nas áreas de negócios e economia.
O que explica a reversão da tendência de supervalorização do trabalhador diplomado é a popularização do ensino universitário na última década. Entre 2001 e 2009, foram abertas quase mil faculdades e o número de alunos praticamente dobrou. O Censo da Educação Superior de 2009 mapeou 2,3 mil instituições de ensino, com 5,95 mil alunos matriculados – 75% deles em escolas pagas. É este brutal aumento da oferta de mão de obra formada em faculdades que explica a relativa perda de relevância econômica da graduação nos últimos anos. E não uma queda na demanda por trabalhadores graduados. Ao contrário. O diploma ainda vale muito. Em 2009, pagavam-se, em média, R$ 1.169 para trabalhadores que estudaram até o ensino médio e R$ 2.880 para profissionais com nível superior. “Continua sendo um impacto substancial”, afirma Menezes. Estima-se que o nível de desemprego entre brasileiros diplomados seja um terço da taxa média de desocupação no país.
Em 2009, um profissional com pós-graduação ganhava, em média, R$ 4.856, comparado aos R$ 2.880 dos colegas com terceiro grau completo. É um salto de 68,5%, conquistado com dois anos a mais de estudo. Em 1999, a diferença entre graduados e pós-graduados ficava em 32,5%.
NOVA CLASSE MÉDIA
A diminuição da lacuna entre diplomados e não diplomados é parte de um movimento desejado de queda da desigualdade de oportunidades. A consultora Priscila Simões, sócia da Expertise Educação, dedicou sua tese de doutorado ao tema. Defendida na USP no ano passado, ela revela que, entre 2004 e 2008, a participação dos alunos com renda de até três salários mínimos no ensino superior privado brasileiro cresceu 84,5%. A fatia daqueles com rendimentos entre três e cinco salários mínimos aumentou 52,6%. Com isso, 70% do total de alunos do ensino superior privado passou a se concentrar nas faixas de renda de até dez salários mínimos.
Nas décadas que se seguiram à Segunda Guerra, os Estados Unidos passaram por um processo semelhante de popularização do ensino universitário. Hoje, questiona-se a educação superior universalizada tanto no âmbito financeiro como no filosófico. A crise econômica e a consequente falta de empregos para quem sai da universidade fazem a maioria dos americanos (57%) achar que o diploma não compensa os gastos pesados para as famílias. Em 25 anos, as mensalidades subiram 467% nos Estados Unidos, ante uma inflação acumulada de 107%. Na academia, o debate é outro: o papel da universidade é educar um número pequeno de pessoas em um padrão muito elevado ou estender as oportunidades educacionais tanto quanto possível, a um padrão não tão alto?
COM CLICK PB
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